terça-feira, 19 de maio de 2009

Presidente da Infraero compra briga com PMDB

Estava voltando de viagem com meu pai de Refice PE e fiquei fã desse cara lendo a reportagem na Revista Epoca ...

O brigadeiro da Aeronáutica Cleonilson Nicácio, responsável pela estatal dos aeroportos, quer demitir apadrinhados políticos e acabar com cargos inúteis
(Murilo Ramos - Revista Epoca)






NA ROTA CERTA O presidente da Infraero, brigadeiro Cleonilson Nicácio, na base aérea de Brasília. Suas medidas deverão gerar uma economia de R$ 20 milhões para a estatal
Desde o golpe de 1964, talvez seja a primeira vez em que num conflito entre um comandante militar e o PMDB quem está certo é o militar. Com esposas, cunhados, irmãos e outros protegidos encastelados em cargos numa das mais importantes estatais do país, a Infraero, responsável pela administração de 67 aeroportos brasileiros, a tropa de choque do PMDB no Congresso está em guerra contra o brigadeiro da Aeronáutica Cleonilson Nicácio, de 61 anos. Presidente da Infraero desde dezembro do ano passado, Nicácio virou alvo da ira peemedebista por ter tomado medidas para enxugar cargos inúteis, afastar apadrinhados políticos e assegurar um padrão profissional à gestão da estatal.
As providências são óbvias e simples. Pode-se até perguntar por que não foram tomadas antes. Mas elas geraram uma rebelião no PMDB, partido da resistência democrática durante a ditadura militar (1964-1985), transfigurado hoje em maior símbolo do fisiologismo político no país. Por causa das medidas de Nicácio, líderes do PMDB insinuaram um boicote à votação de projetos do governo no Congresso e foram se queixar com o presidente Lula. Ameaçaram aumentar a fatia do partido que pode apoiar o governador de São Paulo, José Serra, na eleição presidencial de 2010. Por fim, também pressionaram pela substituição do ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, com o argumento de que ele não está zelando pelos interesses dos aliados do governo.
Na liderança da “revolta dos parentes”, como o episódio já foi batizado, destacaram-se o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (RN). Um irmão de Jucá, Oscar (salário de R$ 9.800), e a cunhada Taciana Canavarro (salário de R$ 6 mil) foram demitidos da superintendência em Pernambuco. Alves terá de se mexer para arrumar outro emprego para a ex-mulher Mônica Azambuja (salário de R$ 9.800), que tem um emprego no aeroporto de Brasília e está na mira das próximas demissões. Mônica já causou grandes problemas a Alves. Em 2002, documentos do processo de divórcio litigioso dos dois vazaram e revelaram que Mônica reclamava a partilha de supostos US$ 15 milhões depositados em contas de Alves no exterior. O caso levou o PMDB a desistir de indicar Alves como candidato à Vice-Presidência na chapa de Serra. Um dos colegas de Mônica no aeroporto de Brasília, Marco Lomanto (salário de R$ 11.600), também deverá perder o emprego. Ele é irmão do ex-deputado baiano Leur Lomanto, também do PMDB.
A faxina na Infraero é vista como preparativo para a aberturade capital e a privatização de aeroportos
Apesar do comportamento quase chantagista do PMDB, o governo, até o final da semana passada, não dava sinais de recuo. Chefe do brigadeiro Nicácio, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, ele próprio um peemedebista, disse que viu as “manifestações do PMDB”, mas frisou que a decisão das demissões é irreversível. No Congresso, poucos parlamentares aplaudiram as medidas saneadoras na Infraero. Um deles, da velha-guarda do PMDB, foi o senador Pedro Simon (RS). Subiu à tribuna e elogiou Jobim e o brigadeiro Nicácio “O que se esperava era um apoio total a essa decisão, era solidariedade a esse gesto. Lideranças dos mais variados partidos, inclusive do meu, não elogiaram o ministro nem o brigadeiro”, disse Simon.
Reservado e de fala baixa, o brigadeiro Nicácio tem o hábito de começar o dia de trabalho com reuniões rápidas de no máximo 40 minutos, em que passa instruções a seus diretores. Ao contrário de grande parte de seus antecessores, não gosta de receber políticos em seu gabinete. Prefere vistoriar aeroportos, desde os estacionamentos no lado externo até as pistas de pouso. Na história da Infraero, ele é o único presidente que já visitou todos os aeroportos administrados pela empresa. É conhecido também pela aplicação nos estudos – fez carreira militar com as melhores notas. Com 5.200 horas de voo, foi piloto do Boeing presidencial e transportou os presidentes Ernesto Geisel, João Figueiredo, Fernando Collor e Itamar Franco. Fora do trabalho, tinha o hábito de correr, o que o levou a participar da maratona de Nova York.
As mudanças introduzidas pelo brigadeiro Nicácio na Infraero pretendem reduzir os cargos comissionados na estatal – hoje normalmente preenchidos por indicação política – de 109 para 12. Ele também baixou regras pelas quais quatro das cinco diretorias da Infraero terão de ser preenchidas por funcionários de carreira. No passado, até o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares fez nomeações para a diretoria da Infraero. Junto com outras providências, essas medidas poderão gerar uma economia de R$ 20 milhões aos cofres da empresa.
A faxina na Infraero é vista como uma preparação para a abertura de capital da empresa, indispensável para a captura de investimentos externos. Além da abertura de capital da Infraero, alguns aeroportos, como o do Galeão, no Rio de Janeiro, e o de Viracopos, em Campinas, podem vir a ser privatizados. “Se o exemplo do brigadeiro fosse seguido por outras estatais, seria um grande avanço para o país”, diz Claudio Abramo, da Transparência Brasil. Por causa do estatuto militar, o prazo de validade da passagem do brigadeiro Nicácio pela Infraero terminará em agosto. Ele terá de voltar à Aeronáutica, caso contrário será aposentado compulsoriamente, o que ele não quer. Na lista de promoções da Força Aérea, ele é o primeiro da fila para ser o próximo comandante da Aeronáutica, no lugar do brigadeiro Juniti Saito. Isso deverá ocorrer em 2011, já no governo do próximo presidente da República.
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